Cozinha

- Não precisa ser assim também. E você tem me evitado sim.

O que tinham não passava de uma amizade colorida, logo não parecia haver motivo para Ratatosk estar tão investido assim. Talvez ela estivesse apenas querendo um tempo mais para si. Mas, mesmo em suas amizades normais, o ladrão gostava de conversar e perguntar. Principalmente quando havia uma mudança na atitude da pessoa. Era próximo de Sasha, céus como os últimos meses sabiam que eles eram próximos, então para ela se afastar sem falar muito era... Estranho. E ele não estava falando sobre conversas e flertes casuais. Bom, isso também diminuíra bastante, mas a aproximação física deles se tornara rara. 

- Não notei o que?

- Você tem se evadido constantemente de mim, então. - Abriu um leve sorriso de canto, em seguida pegando a louça que Sasha indicara. - Sim sim, é claro.

Após enxugar e guardar a louça, Ratatosk deixou o pano que usava no lugar dele e voltou-se para Sasha. Normalmente gostava de quando ela o olhava daquela maneira, era um sinal de que coisas boas estavam por vir. Mas aquele olhar era diferente. Ele conseguia sentir que era diferente. Portanto manteve uma expressão calma, queria focar-se no problema ao invés de fantasiar sobre o que poderia acontecer.

- Eu não mereço saber o motivo, pelo menos? - Perguntou Ratatosk e então, com um tom de curiosidade e leve atração, ele questionou. - Você realmente não me quer mais?

- Não é como se eu te beijasse toda vez que te vejo.

Mas flertava. Constantemente. Tornara-se uma pequena brincadeira entre eles, que começara um pouco antes dos dois começarem aquele relacionamento. De certa forma, muitos desses flertes deixavam transparecer mais do que deveriam, mas não era como se eles fossem parar. Não era só pela atração que tinham, Ratatosk achava realmente engraçado algumas das coisas que falavam um para o outro. Porém agora, o motivo para conversar se tornara outro.

- Então okay. - Deu de ombros. Era de se esperar que um espião fizesse de tudo para tirar informações de uma pessoa, mas aquilo era diferente. Se ela não queria falar, ele não iria discutir. Deu alguns passos na direção dela, sua mão direita ajeitando uma mecha de cabelo dela atrás da orelha, um sorriso calmo e controlado. - Então você ainda me quer... Eu estou aqui, só precisar me pegar

- Você sabe bem que eu quero. E você quer também.


Ambos queriam. Bom, estavam solteiros enquanto todos naquele local ou tinham alguém ou não tinham o menor interesse em uma relação similar a deles. Ou até mesmo algo mais sério. Apesar de ter considerado levar aquele relacionamento mais a sério, sabia que não era uma boa ideia. A partir do momento que ela se tornasse ainda mais íntima dele, Sasha teria que lidar com os problemas e sombras que ele carregava consigo. E ele não queria aquele peso para ninguém. Sem falar que... Aquilo era muito melhor.

- Vamos ser bem sinceros aqui... - A mão dele permaneceu do rosto dela, conforme ele aproximava sua boca da dela. E, meros centímetros de distância, ele perguntou. - Isso realmente importa? - E beijou Sasha profundamente, sua mão livre indo até a cintura dela e puxando-a para ainda mais perto de si, colando seus corpos.

- E quando que eu não sou convencido?

Na maior parte do tempo. Ratatosk era um blefe com pernas. Possuía habilidades, sim, mas não era como se ele fosse supremo em sua categoria. Haviam diversos fatores que o faziam ser bom e outros que faziam com que outras pessoas fossem um tiquinho melhores que ele. Mas ninguém notava isso. Ratatosk andava e falava com tanta confiança que era como se ele não pudesse falhar em nada que tentasse. Absolutamente nada. Quando na verdade ele tinha sorte em não tropeçar a cada cinco segundos.


Não havia nada de errado naquilo. Bom, se ele soubesse o que Sasha pensava, talvez ele compreendesse melhor o que ela achava da situação. Mas não era como se estivessem traindo alguém. Ambos eram solteiros, ambos tinham uma vontade dentro de si. Haviam feito certas regras para aquela amizade, porém eram coisas básicas para a situação, como terminar esse tipo de amizade se um dos dois entrasse em um relacionamento com outra pessoa. Mantinham aquilo em segredo por diversos motivos, o principal para Rat é que ele sentia que o resto do grupo não aprovaria daquilo uma vez que, com exceção de Kit e Sasha, ninguém confiava nele. Ele, em seu mundo, tinha fama de espião e traidor. E ali ele conseguira uma fama de não ser confiável e de aproveitar-se de qualquer situação. Era de se esperar que todos ficassem atentos perto dele.

- Gosto quando você me toca assim.

- Eu gosto de chamar isso de honestidade.

Ratatosk viera de um lugar onde se gabar, mesmo sobre coisas falsas, era uma necessidade. Você precisava se vender como superior para os grupos, caso contrário nunca entraria neles. Dentro de ditos grupos, a vida era levemente melhor, havia comida, um lugar bom para dormir e calor. Porém também haviam muitas pessoas e a chance de não acordar na manhã seguinte aumentava ainda mais. Mas era mais difícil matar quem era visto como uma necessidade e não como um ser descartável.

O fator do segredo, o perigo de serem descobertos... Eram coisas realmente atiçantes, mas não era como se ele estivesse naquela amizade apenas pelo corpo de Sasha, ou pela excitação que tinha toda vez que a beijava em um lugar onde poderiam ser vistos. Realmente gostava da Sasha, de todos ali na verdade. Eram pessoas únicas e divertidas, e mesmo tendo conhecido várias pessoas parecidas antes... Aquilo era diferente, era como se aquele grupo fosse uma família e Ratatosk era o vizinho que os via todo dia. Gostava de fazer parte daquilo, mesmo que todos suspeitassem dele. Ele notava as reações de Kit aos seus flertes é claro, mas não conseguia ver o que Sasha via. Talvez por não conhecê-la tão bem como a outra. O que ele via naquelas reações era uma garota envergonhada com flertes mais diretos e embaraçada com os mais sutis. Não via o começo de algo nisso. Se Sasha estivesse certa, bem... Só o tempo diria.

- Você é uma mestra em me provocar... - Mas Ratatosk também sabia o que fazer para atiçar a garota também, seus lábios deixando os dela e passando a deslizar pelo pescoço da mesma, depositando pequenos beijos. Queria morder, mas haviam combinado não deixar marcas em locais visíveis. Suas mãos, que encontravam-se na cintura da garota, desceram até a bunda dela apertando-a. Sua boca voltou a encontrar-se com a dela, continuando aquele beijo. - Quando é que vamos ficar sozinhos de novo?

Como adorava a companhia de Sasha, fosse em momentos quentes como aqueles ou em cenários mais calmos. Gostava de estar perto dela e de conversar com ela, a garota sabia brincar junto com ele e até parecia gostar dos flertes e elogios do homem. Mas em momentos como aqueles era quando ele se lembrava do motivo atrás da vontade de beijá-la toda vez que a via. Uma boca tão doce que simplesmente parecia atraí-lo a todo momento, o ladrão acabava notando que ficava olhando demais para os lábios dela, desejando-os contra os seus. E ainda havia o resto do corpo, é claro, mas este ele preferia explorar quando estavam realmente sozinhos e não havia ninguém para descobri-los, quando sua boca podia passear livremente por cada canto do corpo dela, quando podia sentir a pele macia dela sob as suas mãos.

- Claro que não, mesmo sem fazer nada você me provoca. - Ele considerou apenas colocar seus dentes contra a pele dela, sem morder e nem pressionar, apenas uma provocação. Mas sabia que sua falta de controle o faria mordê-la.

O mundo de Ratatosk não era um onde havia muito romance. Haviam pessoas que se casavam e permaneciam juntas, sim, mas a grande maioria preferia apenas ter uma pessoa do seu lado com quem pudesse passar momentos de prazer. Uma situação muito parecida com a que aqueles dois estavam vivendo naquele momento, mas no mundo original do ladrão as pessoas raramente gostavam da outra, era realmente um relacionamento puramente sexual. Pelo menos o rapaz de cabelos pretos podia dizer com toda a certeza do mundo que gostava de Sasha e da companhia dela, e isso era mais do que muitos em Yggdrasil. Claro, ele já tivera relacionamentos assim enquanto ainda estava lá, mas nenhum deles duravam. E a grande maioria terminou com as garotas querendo matá-lo ao descobrirem que ele era um traidor ao grupo que pertenciam.

- Me parece ótimo... Mas não vamos poder usar uma estalagem para isso, as pessoas vão nos reconhecer e começar a falar... Bom, temos sempre como usar as barracas.

O quanto amava ouvir aqueles gemidos, saber que havia mexido com ela... Agora tão próximos, o beijo aprofundou-se mais e mais. A mão direita de Ratatosk continuava no glúteo dela, enquanto a esquerda subia, entrando por debaixo da camiseta da garota e subia ainda mais, e mais. Mas não encostava nos seios da garota, apenas a área abaixo. Queria provocá-la um pouco mais, queria saber que criara uma vontade por aquele toque.

- Algo me diz que seu sex appeal sempre foi alto.

Ratatosk sabia desse passado, conseguira reunir informações o suficiente para ligar os pontos e não precisar trazer memórias ruins à tona. Sabia da dor que Kit e seus amigos haviam passado, da pessoa que perderam e de tudo aquilo. Quando finalmente conseguira aprender tudo... Bom, ele diminuiu os flertes com Kit, pelo menos a intensidade deles. Ela já tivera alguém com quem partilhara bons momentos e ele sentia que ser direto demais invocaria memórias que ela preferia deixar no seu subconsciente. Esse conhecimento também lhe esclarecera o motivo de gostar tanto de Sasha, ela o lembrava dele um pouco. Não só por flertar, ser bonita e ser boa na cama. Não, ela o lembrava muito de como ele era em Yggdrasil, quando menor. 

Ele lera as histórias sobre o mundo antigo, antes da colônia-árvore ter sido erguida. Histórias de ação e de romances. Algo tão perfeito que nem parecia ser real. Mas ele largara esses sonhos ainda jovem, aquele não era o tipo de mundo onde os apaixonados sobreviviam. Largando todo o apego pelo romanticismo, ele tornou-se quem é hoje. E bem... Sasha fugira, assim como ele. Ratatosk era um ladrão justamente por não gostar de lutas corpo a corpo, e mesmo quando era pego sempre usava seus revólveres. Tudo para manter uma boa distância entre ele e os seus inimigos. Claro, isso nem sempre funcionava, mas era algo que ele vinha fazendo desde sempre.

- Sim... podemos fazer isso... - Ele respondeu, sua voz soando baixa, provocativa. - Se quiser podemos ser silenciosos hoje à noite... Eu consigo chegar no seu quarto sem ninguém notar...

Ratatosk gostava do barulho, gostava de ouvir os gemidos e a voz dela. Mas também apreciava os momentos de silêncio, onde a intimidade era ainda maior, onde somente eles sabiam o que acontecia. Tão próxima, tão colada, era quase impossível ela chegar mais perto que isso. Na verdade, até tinha como, mas a cozinha certamente não era o melhor lugar para isso. Sentindo a pele dela sob a sua mão, ela passeou suavemente, seus dedos deslizando por ela. Conseguia sentir o batimento acelerado e o seu também estava longe de ser controlado. Principalmente depois daquela lambida. Soltou um gemido rouco e baixo, contra o ouvido dela, seguido por um suspiro.

- Sempre... Mas o meu calor combina com o seu. - A mão esquerda subiu e desta vez não provocou, apenas apalpou o seio dela protegido pelo sutiã e acariciou suavemente. - Essas suas lambidas são letais.

- E você adora trilhar esse mal caminho, não é?


Ratatosk precisara de anos e anos para melhorar sua aparência. Se tivesse continuado nas ruas, dependendo de esmolas e restos, ele jamais seria assim. Mas entrou para um pequeno grupo, um dos subsidiários de Nidhogg onde tinha uma cama e comida decente e logo começou a exercitar-se e a cuidar melhor de si mesmo. Sabia que apesar de precisar de palavras para convencer as pessoas, uma boa aparência cortava a conversa pela metade. Não que esse tivesse sido o caso com Sasha, apesar de saber que ela fora atraída por ele a partir do primeiro momento que o vira, aquilo não teria passado de beijos se os dois não se gostassem.

- Eu gosto dessa ideia... Gosto muito dela.


Não sabia dizer o motivo de ela ter negado a sua ideia tão rapidamente assim, mas a proposição dela acabou excitando-o. Apesar de terem utilizado de diversas posições e explorado cada canto dos seus respectivos quartos, eles ainda não tinha feito aquilo por algum motivo. Bom, normalmente estavam tão perdidos no que sentiam que raramente pensavam em deixar o quarto. Também sempre havia a chance de alguém ter voltado mais cedo do que o esperado e ver os dois. Aqueles toques, aqueles beijos, as mil e uma provocações... Aquilo era provocativo demais para ele, sem falar na antecipação do que iria acontecer no banheiro. Faziam o que? Semanas que não ficavam sozinhos, não podendo dividir uma cama. Ainda arriscavam os ocasionais beijos, mas nunca ia além disso.

- A ideia do banho realmente te excitou, hein? - Ele apertou suavemente o seio dela, desta vez a outra mão apertando a bunda dela também. Assim que pudessem se livrar daquelas roupas... Era uma pena que não podiam fazer muito barulho. - Eles fazem isso de diversas maneiras. Quando vamos para esse banho, então?

- Você pode vir em mim na velocidade que quiser.

Ratatosk notara, alguns dias atrás, que aquele grupo parecia estar afetando a sua personalidade. Ele confiava em todos ali, até mesmo naqueles que estariam dispostos a enfiar uma faca nas costas dele no primeiro sinal de traição. Viveu toda a sua vida com diversos grupos de pessoas cujo código moral e ético era extremamente questionável. O próprio código de Ratatosk era assim. Mas ele começara a mudar isso. Apesar de ser difícil de largar seus costumes e modos antigos, ele estava lentamente fazendo isso. 

- Claro que concordo. - Era, num geral, uma excelente ideia. Uma solução fácil e direta que eles não haviam considerado antes. Claro, havia um limite para o quanto o barulho do chuveiro conseguia abafar os sons deles, mas desde que se mantivessem silenciosos não haveria problema algum. Merda, estava começando a formar a cena toda em sua cabeça, o corpo de Sasha molhado contra a parede... Isso certamente não o ajudava a controlar a dureza que sentia entre as pernas. - Posso... dizer o mesmo. 

Se estivessem sozinhos, não haveria a necessidade de se segurar naquele momento. Roupas iriam contra o chão e eles começariam o ato ali mesmo. A única coisa que os impedia era o medo de serem descobertos, isso geraria diversos problemas e conversas desnecessárias. Ratatosk era bem sincero com as próprias emoções e desejos, porque se Sasha começasse a tirar a roupa naquele exato momento ele iria seguir o exemplo, nem mesmo se importando com os outros membros. Mas precisava controlar sua luxúria.

- Uma hora é tempo... Mas gosto da antecipação. Em uma hora nós se vemos lá... - Com um último aperto suave, a mão esquerda de Ratatosk deslizou para baixo, indo para a cintura dela. A mão direita continuava no mesmo lugar de antes, apalpando e massageando calmamente o glúteo da garota. Precisavam parar e irem para os seus cantos, esperar aquela hora passar. Mas aquilo estava tão bom... O ladrão a beijou profundamente mais uma vez, se era para aguentar uma hora precisava acalmar o máximo das suas vontades ali mesmo. - Você me faz pirar...

- Claro que é. - Ratatosk certamente era mais aberto do que antes, contando coisas sobre o seu mundo e como elas eram por lá. Já havia revelado algumas coisas antes, mas nada muito importante além do nome e de alguns fatos aleatórios. Agora, a maioria dos membros que se interessavam nisso já sabiam alguns pedaços do passado dele, sobre como ele agira como um espião triplo dentro dos dois grupos principais. Porém ele nunca revelara para quem estava realmente trabalhando. - Eu vou assumir... Que você também esteja. Se eu checar... Não vamos conseguir parar.

Ratatosk tinha um certo fraco por mordidas, principalmente em situações como aquela. Elas o deixavam excitado de uma maneira única, ele queria mais e ao mesmo tempo queria retribuir o favor. Ao menos Sasha não deixava marcas, a única vez que Ratatosk pode morder o pescoço dela ele acabou deixando uma marca. A garota precisou esconder ela do resto do grupo, uma vez que os dois ficaram sozinhos na mansão nessa situação. Não considerara a cozinha, mas era óbvio que aceitaria se ela sugerisse. 

- Eu sei... - Queria parar, mas ao mesmo tempo queria continuar. Ele não pareceu se importar em ser afastado de súbito, na verdade ele até estava sorrindo. Até mesmo quando ela o afastava ela continuava a provocar ele. - Certo, farei isso... Eu odeio quando você vai, mas a visão de você de costas compensa um pouco.