Ala de Informação

Ratatosk sempre demorava para pegar no sono, mas quando o fazia tendia a dormir bem. Naquele dia em específico ele havia dormido extremamente bem devido as horas que havia gasto no chuveiro com uma companhia mais que prazerosa, porém ainda assim ele foi acordado antes do que gostaria e logo seus resmungos começaram. Vestiu-se e fez questão de usar roupas que escondessem bem as marcas que possuía em seu corpo e saiu de seu quarto bocejando. Estava vestido bem casualmente, uma vez que não tinha missão alguma para realizar naquele dia e em teoria iria passá-lo descansando de sua última missão. Foi também o último a chegar na sala, bocejando mais uma vez e de maneira audível antes de coçar seus olhos e erguer sua mão direita em um sinal de cumprimento.

- Oi. - Disse por fim, olhando para a tela e notando por fim o rosto do imperador. - Oi pra você também.

Assim que todos estavam presentes, o imperador começou a falar. Ele não questionou a presença do anjo, mas não havia necessidade para tal, visto que confiava no julgamento dos membros da Equipe Black (mesmo que isso tenha se provado uma fragilidade um ano antes). O homem explicou que aparentemente alguém estava infiltrado em Dragon e causando problemas para os dragões.

- Problemas. Pros dragões? - Sasha questionou, mostrando certo ceticismo quanto a frase.
- Normalmente eles são o problema... não o alvo de alguma pessoa problemática. - Chess riu de uma maneira quase estupida.

Até Kit parecia um tanto quanto receosa. Não havia nada a ver com o medo irracional que tinha de Moon Sky, mas era uma preocupação válida, afinal os dragões constituíam uma das raças mais poderosas do reino.

- Hum, você tem certeza sobre isso? Eles não vem com bons olhos invasores, mesmo que os invasores em questão estejam indo pra ajudar. Além disso... - uma gotinha surgiu em sua testa.
- Aquele bruxo de quinta categoria usa escamas pra fazer poções, e eles não devem esquecer-se disso. - Charlotte completou, referindo-se a Crós.

Michael ouviu com atenção todas as palavras do Imperador e as mesmas foram gravadas dentro do seu banco de memórias, algo que acontecia com todos aqueles cujas vozes soavam perto do anjo de metal. Por automático ele puxou todas as referências que possuía dentro de si sobre dragões, incluindo as curtas pesquisas que fizera sobre Diamond no pouco tempo que tivera, em seu mundo eles eram nada mais que mitologias e seres de lenda que eram replicados em desenhos, estátuas e outros tipos de arte, mas com o passar dos anos alguns foram criados como robôs e usados nas antigas guerras. O maior exemplo de um robô dragão criado foi nomeado de Ancalagon, em referência ao dragão pertencente ao mythos das histórias de Tolkien, este nunca chegou a ser ativado mas os arquivos que possuía sobre ele indicavam que tal criação era do mesmo tamanho daquele do qual seu nome havia sido retirado. 

- Conheço pouco sobre os dragões desse mundo, mas compreendo que isso é preocupante. Se irmos até o local é algo que pode ser visto como uma afronta, como poderíamos ligar com isso? Imagino que ''não sermos pegos'' não seja o suficiente para formar um plano.

Ratatosk escorou-se contra a parede e observou a conversa em silêncio, tanto por não querer interferir em nada importante como por estar morrendo de sono. Seus olhos iam do Imperador, para Kit, para Sasha, para o Imperador e assim o ciclo continuava, até que por fim Michael falou. Não tinha prestado muita atenção no robô, mas ele era extremamente detalhado e realmente parecia um humano a primeira vista, mas julgava que algumas diferenças deveriam surgir em dado tempo.

- Que outras informações temos sobre o invasor? - Ele ergueu seu punho na frente de sua boca para esconder um bocejo. - Digo, possível objetivo, no que ele está obstruindo, esses tipos de coisa.

- Não fazemos ideia de quem seja, mas foi relatado que filhotes tem sido tirados do Berço de Chamas e encontrados mortos.

Kit arrepiou-se totalmente com a informação. Os dragões não pareciam preocupar-se com filhotes fracos, mas era verdade que, independente do que fosse dito, a infância era a idade mais vulnerável deles. Matar filhotes não era apenas uma forma de atingi-los, como também de controlar sua população.

- Se isso for ligado aos nossos feiticeiros, teremos problemas mais tarde. Tudo que não precisamos é ter que lidar com a fúria dos dragões. - argumentou Charlotte, um tanto quanto calma demais para a situação inteira. - A melhor opção seria observar e pegar o responsável em ação, de uma maneira que possamos lidar com ele e com a desconfiança dos dragões ao mesmo tempo.
- Você quer colocar mais filhotes em perigo desse jeito? - protestou por sua vez Kit.
- Ela tem razão. Precisamos ao mesmo tempo provar que não estamos envolvidos e dar cabo da situação de uma vez.

- É um bom plano.

O tom de voz utilizado por Michael, entretanto, deixava claro que havia muito mais a falar além daquilo. Informações limitadas eram apenas parte da vida, para saber tudo o que acontecia seria necessário um controle sobre o fluxo de conversas, pensamentos e escritas tão enorme que a onisciência seria o próximo passo a ser tomado. Portanto ele lidava com o que sabiam, evitando utilizar informações que pudessem ser falsas ou rumores.

- Precisamos, porém, ver todos os modos como isso pode acabar. E se, na hora que pegarmos o tal culpado, ele conseguir escapar antes dos dragões chegarem? Quem será visto como os culpados? Nós ou alguém que já não está lá? Levando em consideração que ele está atacando filhotes e não foi encontrado ainda, é de se imaginar que tenha como entrar e sair rapidamente.

- Eu não sei como é esse lugar, mas ele precisa realmente chegar perto para matar?

Ratatosk pensava como praticamente todas as pessoas vindas de Yggdrasil. Espionagem e combates por território eram normalmente feitos com certa proximidade, onde ver um inimigo era praticamente uma garantia, mas assassinatos de alvos específicos por poucas vezes aconteciam com o alvo podendo ver seu algoz. Snipers, venenos, explosões, todas as maneiras de matar alguém de longe eram utilizadas e Ratatosk considerava que em um mundo como aquele, as opções apenas se ampliavam.

- A infância dos dragões é a fase mais frágil que possuem, dependendo do ataque, poderia ser feito tanto de longe quanto de perto. - ponderou o Imperador, de maneira paciente. - Envenenamento talvez não seja efetivo, mas explosões, esmagamento ou empalamento podem ser usados. Além disso, pelo que foi relatado, os filhotes foram retirados do Berço de Chamas, então alguma coisa está atraindo-os para fora.


Sasha havia ficado em silêncio enquanto debatiam, então decidiu erguer uma mão, o que obviamente não foi visto pelos outros. Ela pigarreou fortemente a seguir, para que chamasse a atenção para si, e então alegou.


- Se estivermos com Draco, talvez isso cause uma reação melhor... da parte dos outros dragões, pelo menos.
- Bem que Crós mencionou um dragão, mas até agora não o vi. Onde ele está?

De alguma forma, todos os pares de olhos, com excessão de Sasha, estavam agora voltados para Kit. Ela deu uma recuada, atitude bastante normal quando as atenções caiam demais sobre si mesma, e então engoliu em seco.

- Bem... ele está por ai.
- Por ai onde, Senhorita Black? - Aldeon questionou de uma maneira um tanto quanto calma, mas era visível que o mesmo esperava uma resposta o quanto antes.
- Hum. Eu realmente não sei.
- Resumindo, tem um dragão solto por Diamond, que em teoria poderia nos ajudar, mas pode nos atrapalhar também, é isso? - Charlotte abriu um sorriso de depreciação, ao passo que Ches parecia achar a ideia bastante engraçada, porque ele levou uma das mãos a boca e escondeu uma risada.
- Ele não é um... bicho de estimação, para eu mantê-lo numa coleira. - Kit pareceu ligeiramente ofendida com a ideia, e cruzou os braços. - Não podia mantê-lo preso aqui.
- Eu me lembro de você dizer, especificamente, que tomaria conta dele quando o trouxe. - Sasha aderiu momentaneamente a implicância, entretanto logo deixou-a de lado. - Quem diria, aparentemente dragões também passam pela puberdade... de qualquer forma, faz meses que eu não vejo ele, talvez o pessoal na Sede Black, Hiei ou Mitaray tenham alguma notícia.

- Se o ataque pode ser feito à distância, imagino que achar um local favorável, onde os outros dragões não vejam o assassino, seja fácil se este possuir tamanho humano. 

Não sabia exatamente o quão difícil era matar um dragão, as armas que possuía eram capazes de destruir praticamente qualquer coisa em seu mundo de origem, portanto imaginava que um filhote de dragão não fosse tão difícil assim de se eliminar. E se, por algum acaso, eles conseguissem jogar a culpa dessas mortes nas costas deles, os dragões poderiam muito bem acreditar nisso uma vez que o grupo possuí pessoas poderosas ao seu lado. Seguindo esta linha de pensamento e ignorando o que estava sendo dito sobre o dragão que sumira, Michael falou.

- Essas tentativas de matar os filhotes de dragão. É possível que joguem a culpa em quem for lá para impedir o assassino? - Michael não sabia bem como o mundo ali funcionava, logo precisava perguntar. - E é possível que os dragões acreditem? Se esse assassino está conseguindo entrar lá sem ser detectado, ele consegue escapar de modo igual, logo tudo o que ele precisaria fazer é colocar o grupo que foi até lá no local correto e a armadilha está pronta.

- Não contem com esse dragão, se ele não é uma certeza não é bom criar um plano inteiro que depende dele.

Ratatosk já fizera esse erro antes, contara com coisas que não eram certas e acabara sofrendo as consequências. Uma dessas acabou fazendo com que ele fosse jogado para fora de Yggdrasil, para as terras por onde os Jotuns vagavam e passou cerca de três meses comendo pouco e tentando infiltrar-se na cidade-árvore novamente, até que encontrou aqueles add-ons. Algo bom veio desse problema? Sim, mas ele sempre optaria por não passar por perrengues.

- Você fez a coisa certa. - Ratatosk apoiou a mão no ombro de Kit. - A criatura é inteligente, então mantê-la presa contra a vontade dela seria praticamente escravidão.